Grafite em BH: saiba como a metrópole mineira adicionou cores ao seu cenário urbano

Impulsionado pelo festival Cura, que mudou a cara da cidade, o grafite em BH se tornou referência no Brasil e revela talentos a cada edição

Por Redação - 10/10/2022 às 16:34
Atualizado: 25/09/2024 às 11:46
Foto que ilustra matéria sobre grafite em BH mostra o mirante da Rua Sapucaí, localizada no Centro da Cidade, de onde se vê ao fundo diversos prédios, alguns deles com artes coloridas pintadas em suas fachadas ou laterais. Sobre a mureta, com uma bicicleta encostada, um homem sentado de costas e de pernas cruzadas observa as obras de arte.

Apesar de ser conhecida por guardar alguns toques de cidade do interior, Belo Horizonte é uma das grandes metrópoles brasileiras. E como qualquer metrópole, o característico acinzentado urbano sempre deu o tom de muitas paisagens, especialmente na região mais central da cidade. Esse cenário começou a mudar em 2017, quando o festival Circuito Urbano de Arte, o CURA, nasceu para promover um colorido refresco visual à Capital Mineira, que vem se transformando em um grande museu a céu aberto. Com suas pinturas gigantescas em fachadas e empenas (laterais) de prédios, o evento realizou sua sétima edição entre os dias 15 e 25 de setembro de 2022. E segue em sua missão de promover o grafite em BH, tendo como epicentro pelo segundo ano seguido a Praça Raul Soares, localizada no centro geográfico da cidade.

Priscila Amoni

Uma das criadoras do CURA

“Além de ter transformado e fomentado muito a cena de pintura de prédios, a gente considera que o grafite em BH já era muito forte. Já tinha uma cena muito viva. Mas estamos colocando a cidade num cenário internacional de circuitos de festivais. Hoje estamos entre os mais importantes e de maior relevância artística do Brasil. A gente aponta caminhos. Hoje a gente pauta até São Paulo em termos de novos artistas que a gente lança. O Brasil fica de olho em quem a gente vai lançar”.

Priscila Amoni no alto de um dos prédios nos arredores da Praça Raul Soares, que aparece ao fundo (Foto: Thiago Souza | Divulgação | Cura)

Três mulheres no comando

O festival foi criado, idealizado e curado por “três mulheres mamães”, como conta Priscila. Ao seu lado, estão as amigas Juliana Flores e Janaína Macruz. O trio trabalha o ano inteiro pelo evento. E especialmente nos seis meses que antecedem a realização de mais uma edição, os preparativos se intensificam.

“Fazemos toda a direção criativa do festival, desde o desenho de como vai ser, quantas empenas, quantas obras, quantos artistas, quantas curadoras convidadas. Tudo é feito por nós durante o ano. Toda pesquisa curatorial e pesquisa de território. E aí, o festival propriamente dito começa seis meses antes da data marcada. Nós começamos as reuniões com as curadoras convidadas, começamos as pesquisas e as reuniões com edifícios que serão pintados, e começamos a desenhar também o conceito e, consequentemente, os artistas que irão participar”, revela Priscila.

Juliana Flores (esq.), Janaína Macruz e Priscila Amoni, idealizadoras do Cura (Foto: Thiago Souza | Divulgação | Cura)

Primeiro mirante de arte urbana do mundo

Um dos grandes feitos do Cura foi ter transformado a mureta da Rua Sapucaí, localizada atrás da icônica Praça da Estação, em um grande mirante de contemplação – o primeiro mirante de arte urbana do mundo. 

De lá, por conta da produção de outras edições do festival, pode-se ver belíssimas pinturas em empenas de prédios do Centro da cidade.

Clique na imagem e acesse o mapa interativo com todas as obras do festival:

7ª edição do CURA

Após ter o que chamou de Rio-Avenida Amazonas no ano anterior, em sua sétima edição o CURA pisa totalmente em terra firme. Com os pés no chão, tem o solo que sustenta e nutre como inspiração.

“Ora areia, ora argila. Ora asfalto, ora barro. Ora terra vermelha, ora terra preta indígena. Ora utopia, ora luta. É sobre esta Terra que agora nos levantamos para desenhar novos caminhos e enxergar novos horizontes. Em nossa sétima edição, seguimos o caminho da terra, do solo e das ruas para conectar linguagens e territórios através de uma arte relacional e inclusiva, da reflexão crítica e da mobilização social pautada em diálogos e entendimentos plurais sobre o espaço público”, diz a divulgação do festival.

De acordo com Priscila Amoni, a edição de número sete do CURA foi um marco na história do festival, por trazer um nível ainda maior de maturidade ao evento. 

“Acho que a gente finca uma postura como festival diante do Brasil, do ser brasileiro, de estar no mundo. Não é só mais um festival de pintura. Ele tem um pensamento, como se fosse um ser, mesmo, um organismo”, disse Priscila.

Primeira empena coletiva

A organizadora aponta a empena pintada Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como grande destaque da 7ª edição do CURA, pelo fato de ser a primeira pintura coletiva feita por um movimento social na história do evento.

“É a primeira vez que tem uma pintura de um movimento social e não de um artista. Não é algo apenas da cabeça de uma pessoa. É um trabalho que foi inteiramente coletivo e horizontal, feito a partir de uma oficina que o CURA deu dentro da escola de arte do MST. Então, tem essa importância de ser a primeira empena que a gente faz que traz a vivência e o conhecimento de artistas de um movimento social tão importante no Brasil”, diz Priscila. “Cada vez mais o CURA está coletivo e posicionado para além do mundo da arte. A gente está falando sobre Brasil, que é uma questão muito urgente”, completa a organizadora. 

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A Praça Raul Soares

Na edição passada, o festival decidiu mirar na Praça Raul Soares, um dos espaços mais democráticos e de maior diversidade da Capital Mineira, localizada em uma encruzilhada entre as Avenidas Amazonas e Bias Fortes. 

Praça circular, conhecida por ser um território LGBTQIA+ e por ser palco de protestos e manifestações a blocos de Carnaval da cidade, a Raul Soares é um ponto nevrálgico de Belo Horizonte. 

Um lugar onde casais de namorados, adolescentes roqueiros e atletas de fim de semana dividem o espaço com moradores em situação de rua. Um lugar que aguça a percepção social de qualquer pessoa que esteja de passagem por ali. Um lugar que, a partir da 6ª edição do CURA, em 2021, passou a ser cercado por novas obras de arte do grafite em BH.

Praça Raul Soares (Foto: Divulgação | Cura)

Praça circular, conhecida por ser um território LGBTQIA+ e por ser palco de protestos e manifestações a blocos de Carnaval da cidade, a Raul Soares é um ponto nevrálgico de Belo Horizonte. Um lugar onde casais de namorados, adolescentes roqueiros e atletas de fim de semana dividem o espaço com moradores em situação de rua. Um lugar que aguça a percepção social de qualquer pessoa que esteja de passagem por ali. Um lugar que, a partir da 6ª edição do Cura, passou a ser cercado por novas obras de arte do grafite em BH. 

Como chegar à Praça Raul Soares

Por estar localizada em uma região muito central de Belo Horizonte, a Praça Raul Soares é um local de muito fácil acesso por ônibus. A regão é repleta de estações por onde passam ônibus que saem de diversos pontos da cidade. Entre as estações próximas estão: Rua Dos Goitacazes; Av. Olegário Maciel; Rua Santa Catarina; Rua Dos Guajajaras; Av. Augusto De Lima; Av. Amazonas; Av. Bias Fortes; Rua Dos Tupis e Estação Lagoinha.

A Estação Lagoinha, por sinal, é onde passa a Linha 1 do metrô de Belo Horizonte, que é a mais próxima da Praça Raul Soares. Ao descer nessa estação, saia na Avenida do Contorno e siga na direção da Rua Paulo de Frontin e vire nela à esquerda. Depois, vire à direita na Avenida Olegário Maciel e siga por cerca de 850 metros até virar à direita novamente, já na praça. O percurso todo a pé tem menos de 1,3 Km.

Grafite em BH: artistas do Cura

Conheça os artistas da 7ª Edição do CURA:

Selma Calheira

A artista plástica e ceramista baiana Selma Calheira participou do CURA com a instalação “Homens de Barro”, que contou com 26 peças de diferentes tamanhos – algumas delas com até 4,5 metros de altura –, que representavam a igualdade social. As peças foram expostas na Praça Raul Soares. 

Sueli Maxakali

Professora, artista e cineasta indígena, Sueli Maxakali faz parte do povo Tikmũ’ũn, localizado em Ladainha (MG), uma região entre os estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. Uma das lideranças da aldeia Maxakali, ela é responsável pela pintura da empena do Edifício Roma, na Avenida Paraná, com 60,4 m de altura por 10,7 m de largura.

Endereço: Avenida Paraná, 466 – Centro

Pedro Neves

Originário da cidade de Imperatriz, no Maranhão, Pedro Neves mora desde a infância em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e é o responsável pela pintura no Edifício Copacabana, na Praça Raul Soares. Uma obra com 41,1 m de altura e 433,5 m2 de área total.

Endereço: Praça Raul Soares, 89 – Centro

MST

A intervenção coletiva dos artistas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se materializou na empena do Edifício Rochedo, na Rua Goitacazes, bem próximo do Mercado Central.

A obra do MST foi feita “pela agroecologia, pelo plantio solidário, pela segurança alimentar, pela formação e educação política dos trabalhadores do campo e pela preservação das culturas”, como descreveu a organização do festival. 

Endereço: Rua dos Goytacazes, 470 – Centro

Willand Cabral

Artista não-binária e dançarina de vogue fem e new way. Willand é nascida e criada no Aglomerado da Serra, o maior conjunto de favelas de Minas Gerais, localizada na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Sua obra, com 28,5 m2, foi feita na fachada do Hotel Sorrento, na Praça Raul Soares.

Endereço: Praça Raul Soares, 354 – Centro

Artistas do CURA em edições anteriores

Conheça alguns dos artistas que já passaram pelo Cura e ajudaram a colorir Belo Horizonte com seus grafites. 

Acidum Project

Tereza Dequinta e Robézio Marqs (Foto: Divulgação | Cura)

Duo formado por Tereza Dequinta e Robézio Marqs, artistas cearenses com 10 anos de trajetória e dezenas de murais em várias cidades do Brasil e do mundo, inclusive em grandes festivais de arte urbana como o Mural Festival, de Montreal, no Canadá. 

Em agosto de 2017, o Acidum Project pintou o mural “Curandeiras”, de 850 m², na fachada cega do edifício Rio Tapajós, retratando dois rostos que se olham e se falam.

Endereço: Rua da Bahia, 325, Centro – Belo Horizonte.

Mural “Curandeiras”, do Acidum Project (Foto: Divulgação | Cura)

Criola

Formada em Design de Moda pela Universidade Federal de Minas Gerais, Criola é uma artista mineira da capital, uma das novas expressões do grafite em BH. Ela pauta sua obra no universo feminino e na busca da conexão com a sua ancestralidade, influenciada por um mergulho na pesquisa de matrizes africanas, o que se reflete na paleta de cores vibrante usada em suas artes.

Criola (Foto: Divulgação | Cura)

Em novembro de 2018, Criola pintou para o Cura o mural “Híbrida Astral – Guardiã Brasileira”, de 1365 m², na fachada cega do edifício Chiquito Lopes.

Endereço: Rua São Paulo, 351, Centro – Belo Horizonte.

Mural “Híbrida Astral – Guardiã Brasileira”, de Criola (Foto: Divulgação | Cura)

Daiara Tukano

Artista, ativista dos direitos indígenas e comunicadora, Daiara é paulistana e fundamenta sua obra em pesquisas sobre história, cultura e espiritualidade de seus ancestrais do povo Yepá Mahsã, mais conhecido como Tukano, originário da região do Rio Tiquié, no Amazonas, na região da fronteira do Brasil com a Colômbia.

Daiara Tukano (Foto: Instagram pessoal)

Em setembro de 2020, Daiara Tukano pintou o mural “Selva Mãe do Rio Menino”, de 1006 m², na fachada cega do edifício Levy, que retrata a mãe selva carregando o menino rio no colo.

Endereço: Av. Amazonas, 718, Centro – Belo Horizonte. 

Mural “Selva Mãe do Rio Menino”, de Daiara Tukano (Foto: Divulgação | Cura)

DMS

Um dos grandes nomes do grafite em BH, Davi De Melo Santos começou sua trajetória na arte urbana em 1998, como a maioria dos grafiteiros, pintando obras em sua cidade natal. Hoje, tem artes que podem ser vistas no mundo todo. Além da arte urbana nas ruas, colabora com empresas e grandes marcas com ilustrações editoriais, design, ilustrações de livros, cenários para teatro e televisão.

DMS (Foto: Instagram pessoal)

Para o Cura, em dezembro de 2017, DMS pintou o mural “O Abraço”, de 1.000 m², na fachada cega do edifício Príncipe de Gales, representando um abraço entre o dia e a noite.

Endereço: Rua dos Tupinambás, 179, Centro – Belo Horizonte. 

Mural “O Abraço”, de DMS (Foto: Divulgação | Cura)

Grafite em BH da janela de casa

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