Espaços de Porto Alegre onde encontrar acolhimento e acessibilidade
Todos os lugares dessa seleção para você conhecer melhor por aqui
Lugares de Porto Alegre em que pessoas com deficiência são recebidas com respeito
Não é fácil acompanhar Lelei Teixeira. Ela caminha com rapidez pelas ruas, desloca-se com desenvoltura, tem a agilidade felina aos 72 anos. Não importa o tamanho da sua passada: se você não se apressar, a jornalista de 1m10cm de altura vai lhe deixar para trás.
Esse fôlego para flanar pela cidade reflete o mesmo ímpeto que Lelei tem para desfrutar a vida, a cultura e Porto Alegre – onde mora desde 1971 e se tornou figura reconhecida e querida nos meios jornalísticos e artísticos. “Porto Alegre hoje é uma cidade que tem vários problemas. Mas é o lugar que escolhi pra viver. Eu sempre digo que é a minha cidade”, define.
Nascida em Jaquirana, pequena cidade da serra gaúcha, Lelei viveu em São Francisco de Paula e Novo Hamburgo antes de se instalar na capital. Trabalhou nos jornais Zero Hora e Correio do Povo, na TV Guaíba, na rádio Pampa e na TVE-RS.
Na assessoria de imprensa, esteve à frente de várias edições de dois dos mais importantes eventos culturais do Rio Grande do Sul: o Festival de Cinema de Gramado e a Feira do Livro de Porto Alegre. Atualmente, trabalha com produção e revisão de artigos e livros.
“É impressionante, Porto Alegre foi uma cidade que me encantou imediatamente, sabe? Gostava de andar na rua e de ônibus, e de descobrir a cidade. Foi um grande desafio”, lembra Lelei, que hoje mora no bairro Moinhos de Vento, em um apartamento adaptado ao seu tamanho, antes dividido com a irmã Marlene Teixeira – professora e doutora em linguística também com nanismo, falecida em 2015.
Em tantos anos de andanças em Porto Alegre, sozinha ou acompanhada da inseparável mana, Lelei acabou elegendo a cidade dos seus afetos – formada tanto por locais muito frequentados quanto lugares discretos, botecos que ficaram no passado e bares que resistem à passagem do tempo.
“Eu adorava ir no Mercado Público, mesmo que eu não tivesse nada que fazer lá, descia do ônibus e passava dentro dele. Porque era um espaço que me encantava, né? Aquelas bancas todas, aquele jeito deles. Ah, os restaurantes...”, rememora a jornalista, citando ainda outro símbolo de Porto Alegre: “A Redenção era um lugar que a gente ia muito, para caminhar ou para as feiras no fim de semana. No sábado, tem a feira ecológica e no domingo é o dia do Brique”.
Outra referência de pertencimento para Lelei é o Bar Ocidente. “Quando abriu o Ocidente, a gente praticamente se mudou para lá. Conhecíamos todo mundo que frequentava o bar. E se tornou praticamente o nosso refúgio”. Na gastronomia, ela cita os restaurantes Tempero Rosa e Copacabana – tradicional lugar de comida italiana que encerrou as atividades em 2021 na Cidade Baixa e agora funciona apenas com tele-entrega. Mas acolhimento mesmo Lelei encontra é no Dona Quitanda, bistrô pertinho da casa dela.
“Quando a minha irmã morreu foi uma coisa absurda, eu sofri muito. Eu estava mal, saía de casa, ia para o Dona Quitanda e ficava lá sentada conversando ou mesmo sozinha. Eles eram tão sensíveis que sacaram por que eu estava indo, né? Eu estava em busca de uma conversa, de um abrigo, de um aconchego, e eles sempre deram esse conforto.”
“Eu acho que é um espaço muito acolhedor. Tão acolhedor que agora eles fizeram uma mesa especial pra mim, com um banquinho pra não ficar com as pernas penduradas, colocaram uma maçaneta na porta que eu alcanço e até botaram a pia na saída do banheiro com uma torneira que eu consigo abrir. Porque é uma questão de acessibilidade que não muda nada pra pessoa que tem um metro e sessenta, um metro e setenta, um metro e oitenta”, conclui Lelei, que lançou em 2020 E fomos ser gauche na vida, livro com textos sobre sua experiência na perspectiva do nanismo, da diferença e da diversidade.
“Não tem como superar um metro e dez. Se tu andas de cadeira de rodas, não tens o que superar. Quem tem de se superar são os ambientes. Não é a pessoa que está com problema.”
Crédito de imagens: Letícia Remião