Espaços de Porto Alegre em que a diversidade já faz parte do tempero cultural
Todos os lugares dessa seleção para você conhecer melhor por aqui
Ambientes seguros para a comunidade LGBTQIA+ frequentar na noite porto-alegrense
A livreira e DJ Nanni Rios encontrou em Porto Alegre um lugar para ser múltipla. Nascida na cidade catarinense de São Pedro de Alcântara e formada em jornalismo, mudou-se para a capital gaúcha em 2008, após algumas visitas nos anos anteriores, movida por um namoro e pelo interesse em explorar a cena cultural porto-alegrense. Aos poucos, consolidou-se como referência no meio literário, na vida noturna e na comunidade LGBTQIA+ local.
“Já me perguntaram se alguma vez sofri preconceito pela minha orientação sexual. Digo que, aqui em Porto Alegre, eu nunca fui preterida por ser lésbica. Pelo contrário! Algumas vezes fui preferida por ser lésbica”, brinca Nanni, destacando o fértil território de oportunidades, pessoas e espaços que encontrou na cidade.
Nanni está à frente da Livraria Baleia, reconhecida pela curadoria cuidadosa de suas estantes. “A Baleia é o que é por estar em Porto Alegre. Tem uma ligação com a cidade e a cena literária local. Desde 2016, é uma livraria feminista e com livros de temáticas antirracistas e LGBTQIA+. Os pedidos muitas vezes vêm direto para mim: 'O que tu indicas de literatura lésbica?'. Porque as pessoas sabem que serão compreendidas e respeitadas”, diz a livreira.
Depois de ter sede nos bairros Santana e Centro Histórico, a Baleia vive uma fase ainda mais itinerante. Atualmente, a livraria ocupa um trailer que circula pela cidade, aproximando livros e leitores.
Ao longo de sua trajetória em Porto Alegre, Nanni apresentou o Programa Gay, veiculado nas rádios Ipanema e Mínima, e o Virada Mix, focado em questões de diversidade, no canal de TV Octo. Ela também é DJ e produtora de festas, como Cadê Tereza? e Tieta, dedicadas à música brasileira.
Assim como na Baleia, Nanni cria espaços noturnos acolhedores para um público diverso. “Sempre busquei criar ambientes seguros, físicos e simbólicos, levantando algumas bandeiras para dizer a outras pessoas que estamos juntas”, afirma.
Na visão de Nanni, há três lugares em especial que dialogam com o espírito surpreendente e acolhedor que ela busca promover em suas atuações na Baleia e na cena noturna. Um deles é um clássico da cidade. “Destaco o Bar Ocidente, por tudo que ele representa no cenário cultural como um todo, abrigando festas e atividades como o Sarau Elétrico, além de encontros políticos que fomentam a cultura e a nossa alegria”, explica Nanni.
“É um lugar que representa, inclusive em sua arquitetura, o diálogo e o movimento, questões fundamentais para se sentir à vontade em um espaço que se pretende desconstruído. Os tempos mudam, e o Ocidente muda junto. As ideias que apresentamos para as festas são plenamente acolhidas lá e há uma diversidade muito saudável”, completa.
O segundo destaque é o Agulha, uma das casas de shows mais inovadoras de Porto Alegre. “Se no Ocidente, com mais de 40 anos de história, esse espaço tem um caráter material, no Agulha o diálogo e o movimento são mais etéreos, no campo das ideias e de sua organização. As gerentes da casa e do balcão são mulheres negras, uma delas é lésbica. Já vi pessoas trans trabalhando lá. Existe uma visão ativa dos proprietários, dois homens brancos, da importância dessa postura. Não basta pintar um arco-íris na fachada”, afirma Nanni, destacando ainda o frescor e a diversidade da programação da casa.
Por fim, Nanni aponta o Bar Opinião como casa noturna acolhedora de um público diverso: “Quando passo ali e vejo uma fila grande de metaleiros vestidos de preto, penso que todo esse povo, que não é da minha bolha, vai ao mesmo bar onde vou botar um monte de drag queens para performar na minha festa. No Opinião, tenho certeza de que serei acolhida e que outras pessoas LGBTQIA+ também serão bem recebidas”.
Crédito de imagens - Destaque: Letícia Remião | Retrato, feed e galeria: arquivo pessoal