Passeio pela arquitetura de POA

Com o Guia Arqpoa, você pode conhecer nosso patrimônio arquitetônico, desvendar histórias e estilos


Fotos, ícones e textos simples dão os detalhes de cada construção da cidade

Publicado em 22 de maio de 2023
Aparece em
Cultura
Família
Amigos
Aproveite e compartilhe com quem você gosta

Quem está em busca de uma experiência diferente para curtir a cidade tem uma opção tri legal: o Guia Arqpoa permite conhecer o patrimônio arquitetônico da capital gaúcha desde o período colonial até as novas edificações que seguem sendo erguidas, um testemunho vivo do crescimento de Porto Alegre e de sua transformação.

O Guia Arqpoa tem como base em um mapa de Porto Alegre, onde foram fixados 100 pontos de interesse, desde prédios e casas até praças e parques. Uma foto revela cada item e ícones identificam o período em que o imóvel surgiu, a que corrente artístico-arquitetônica se filia, que uso tem atualmente e que tipo de proteção recebe. Por fim, um texto breve e simples conta um pouco da trajetória do local, fornece detalhes sobre técnicas construtivas e elementos estruturais, e também contextualiza a importância daquele item para o conjunto urbano.

Com 251 anos completos, a cidade acumula – em seus prédios, praças e ruas – camadas de história que se sobrepõem e que, com a ajudinha de especialistas, podem ser reveladas.

A ideia de fazer um guia completo e robusto e, ao mesmo tempo, acessível para o público não especializado no tema foi dos arquitetos Rodrigo Poltosi e Vlademir Roman, que em 2017 publicaram, em livro, a primeira versão do Guia Arqpoa.

“A gente queria fazer um guia como aqueles de viagem, que todo mundo abre na rua, enquanto está passeando”, comenta Poltosi. A boa receptividade os encorajou a lançar o material em formato digital, disponível para qualquer interessado no tema. “A arquitetura faz parte da nossa cultura, e o nosso esforço é para divulgar isso de alguma forma. Não queríamos um guia de arquitetos para arquitetos. Pelo contrário! Queríamos falar para um público mais amplo, estabelecendo uma relação com as pessoas”. 

Durante a pandemia, os idealizadores receberam o apoio das representações locais do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) para transformar o livro em plataforma digital, hoje acessível e gratuita. No um perfil do Guia Arqpoa no Instagram, posts com conteúdo interativo chamam a atenção dos seguidores, como quiz e enquetes sobre os prédios e locais de interesse, além do dicionário de arquitetura, que explica termos técnicos comumente usados para descrever as características dos imóveis. Tudo com o objetivo de atrair variados públicos para a arquitetura e sua relevância na vida cotidiana de todo mundo que vive em qualquer cidade, especialmente em Porto Alegre. 

Estilo definido pelo amor de quem vê

Uma das características mais marcantes do gaúcho, segundo Rodrigo Poltosi, é o apego à noção de tradição que valoriza o que é nativo, autóctone. Bairrismo, alguns diriam. Porém, ele destaca o fato de que muitos dos prédios e obras mais representativos de Porto Alegre tenham sido projetados por arquitetos e urbanistas de fora.

Um dos que atuou na cidade, erguendo prédios ainda hoje muito relevantes, foi o alemão Theodor Wiederspahn. Para citar um exemplo contemporâneo, a revitalização da Orla do Guaíba, obra decisiva para a reconfiguração da região nos últimos anos, foi assinada pelo arquiteto paranaense Jaime Lerner. “É interessante que, em uma cidade resistente ao que é de fora, boa parte do patrimônio tenha sido projetada por estrangeiros”, salienta.

A assinatura das obras, porém, não é o que as torna importantes. A relação de convivência amorosa dos moradores e visitantes com alguns prédios e espaços públicos é o que determina a sua relevância – e acaba por condensar os muitos estilos que convivem por aqui. E é justamente esse critério – o match com a comunidade – que Poltosi usa para elencar quais são, em sua opinião, os locais que mais se identificam com Porto Alegre.

Entre os principais, uma unanimidade: o Mercado Público. Para além da qualidade arquitetônica, representativa do período em que foi construído e das intervenções que sofreu posteriormente, o Mercado é adorado pelos porto-alegrenses.

“Tem ali uma mistura social muito importante, com gente simples comprando peixe nas bancas e gente das classes altas comendo o mesmo peixe nos restaurantes mais tradicionais”, salienta Poltosi. Com projeto do engenheiro alemão Friedrich Heydtmann e construído em estilo neoclássico, o prédio original do Mercado ficou em obras de 1864 a 1869. Vítima de um grande incêndio em 1912, foi reformado e ganhou o segundo pavimento. Muito descaracterizado por sucessivas obras ao longo das décadas, entrou em restauração em 1989. Em 2013, mais um grande incêndio no Mercado assombrou Porto Alegre, destruindo o segundo andar do prédio. Depois de anos de restauração, a reinauguração do piso superior ocorreu em setembro de 2022.

Na outra ponta desse mesmo espectro, Rodrigo Poltosi lembra do prédio considerado um dos mais belos de Porto Alegre, mas que, pelo seu estado de conservação e pelo imbróglio jurídico que envolve seu restauro, não é visitado e desfrutado por ninguém: a antiga Confeitaria Rocco.

Inaugurada em 1912, o espaço localizado na esquina das Ruas Riachuelo e Doutor Flores, no Centro Histórico, foi ponto de encontro da elite política e econômica, que ali se reunia para tomar chá e comer doces finos ou para participar de festas e banquetes. Sentavam-se ao redor de mesas com tampos de mármore em salões ornados por grandes pinturas murais. Na fachada em estilo eclético, elementos florais, gradis, colunas e pilastras dão suporte às muitas esculturas que ainda hoje se destacam em meio aos prédios altos dos arredores. O edifício foi tombado pelo município, mas ainda não há perspectiva de solução do entrave entre os herdeiros e o poder público para a restauração e o aproveitamento do local.

Arquitetura contemporânea ganha o coração do porto-alegrense

Nem só para antigas construções bate o coração de quem vive em Porto Alegre. Projetos contemporâneos provam que a cidade está disposta a ocupar os espaços públicos qualificados. Exemplo disso – e em destaque no Guia Arqpoa – é a Fundação Iberê Camargo. Projetada pelo badalado arquiteto português Álvaro Siza, abriu novo capítulo na arquitetura da cidade, atraindo o público jovem para esse tipo de equipamento cultural e reativando todo o entorno, na Zona Sul. “A praia na frente era abandonada, ninguém frequentava. Depois da inauguração do museu, as pessoas começaram a descobrir aquela região, que hoje é movimentada e concorrida”, salienta Rodrigo Poltosi.

Fenômeno de adesão popular é outro projeto, ainda mais jovem: a nova Orla do Guaíba. “Lembro que havia movimentos contrários às obras de revitalização, o que não faz nenhum sentido. Hoje a Orla é um símbolo da arquitetura da cidade e demonstra um novo olhar de cuidado com o espaço público”, afirma. Observar o que vem acontecendo no local depois da inauguração, com a população abraçando efusivamente o projeto, demonstra quanto é preciso distribuir melhor os investimentos para qualificar diferentes áreas, para que todos tenham acesso a praças e parques bem conservados, seguros e com opções de lazer. “Tem de descentralizar tudo! Porto Alegre não pode ter apenas aquele parque atrativo. As pessoas vão para onde é bacana”.

Fora do Guia e, aos poucos, fora da memória

Natural de Porto Alegre, o arquiteto Rodrigo Poltosi nasceu e vive até hoje no bairro Rio Branco, antiga localidade chamada de Colônia Africana e que foi se urbanizando e ganhando relevância à medida em que a cidade cresceu. Em sua vizinhança, Poltosi vê ocorrer fenômeno semelhante ao que se passa em outros pontos antigos: casarões e equipamentos públicos tradicionais estão cedendo lugar a projetos arquitetônicos de massa, sem muita personalidade e que, na opinião do arquiteto, desconsideram a história de cada região. A falta de planejamento urbano e a especulação imobiliária são os responsáveis por esse cenário.

Em suas lembranças, ainda está de pé o Cinema Baltimore, ícone do bairro com sua fachada em art déco, onde eram exibidos os últimos sucessos das telonas. Abandonado, o prédio foi substituído por outro cujo projeto foi a réplica de uma série implantada em São Paulo. O enorme pátio do Colégio Nossa Senhora dos Anjos, em que Poltosi estudou, está agora somente na memória. A fauna que circulava por ali, em meio às grandes árvores, desapareceu assim que começaram as obras para a construção de torres residenciais.

Identificar e registrar a arquitetura menos institucionalizada, como casas antigas, é um desafio que ainda não foi cumprido pelo Guia Arqpoa, mas que está sempre no radar dos arquitetos – esses imóveis fazem parte da história da cidade e desaparecem silenciosamente. “Todo mundo fica sentido ao passar por uma rua e, de repente, ver um casarão demolido”. A dificuldade e os altos custos de restauro, aliados à falta de uma política de proteção patromonial consistente, vão seguir provocando cenas melancólicas como as que assaltam a memória de Rodrigo Poltosi. 

Agenda:

Para ter acesso ao guia, entre em:

arqpoa.com.br

@guia.arqpoa

Créditos de imagem: Destaque: Instagram_MercadoPublico | Feed: Divulgação_Fundação Iberê & Instagram_ArqPoa