POA tem várias iniciativas que fornecem refeições, afeto e recomeços para moradores de rua
A falta de acesso a uma alimentação adequada por grande parte da população é um dos principais desafios enfrentados pela sociedade brasileira há muitos e muitos anos. Em 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas depois de adotar estratégias de segurança alimentar e nutricional aplicadas desde os anos de 1990. No entanto, o País voltou a figurar no cenário e teve importante agravamento ao longo da pandemia de Covid-19.
De acordo com estudo divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, no fim de 2020, 19,1 milhões de brasileiros conviviam com a fome. Em 2022, já eram 33,1 milhões sem ter o que comer. Só em Porto Alegre, quase 150 mil pessoas enfrentam a fome crônica. É importante olharmos para esses dados e percebermos que cada número é a vida de um ser humano.
Graduada em Gastronomia, Franciele Reche, pesquisadora em Insegurança Alimentar, é também professora e ajuda na criação de cozinhas solidárias e comunitárias. Ela acredita que, para uma mudança social efetiva, todos precisam comprometer-se na busca pela erradicação da fome. “Em algumas comunidades que entrei, encontrei crianças comendo folha e terra. Outras, sem nenhuma água. Com muita ajuda e também doações, cozinhas foram implementadas e comidas, preparadas. Mas eu vi que elas vão muito além de alimentar crianças e adultos: por meio delas, presenciei pessoas recomeçarem”, emociona-se.
Na capital, algumas iniciativas estão na linha de frente no combate à fome. É o caso do coletivo Cozinheiros do Bem. Júlio Ritta, idealizador do projeto, é chef de cozinha e abandonou grandes restaurantes para dedicar-se exclusivamente às pessoas em situação de rua. Desde 2015, ele cozinha e distribui marmitas no centro de Porto Alegre. “Alimentar é amor”, diz.
Quem passa pelo Viaduto da Conceição, aos fins de semana, se depara com imensa fila que espera pelas refeições quentinhas. Feijoada, churrasco, carreteiro, salada de frutas e sorvete fazem parte do cardápio sempre variado e preparado com muito capricho. Além do Júlio, outros voluntários participam da arrecadação e distribuição até o preparo e a entrega das marmitas. As doações vêm por parte da comunidade que reconhece a importância da ação, que já alimentou mais de 1,8 milhões de pessoas desde a sua criação.
Outro grupo que arregaça as mangas para fazer o melhor possível ao próximo é o Prato Feito das Ruas. O projeto reuniu amigos e cozinheiros voluntários para preparar e servir “amor em forma de alimento”, afirma Rose Carvalho, coordenadora do PF. Mais de mil marmitas são preparadas com café da manhã, pãozinho, almoço, sobremesa, bolo e outros carinhos a todos que chegam com fome no Viaduto Imperatriz Leopoldina, na Avenida João Pessoa, sempre aos sábados.
Em abril, foram quase nove mil refeições servidas a indivíduos em situação de vulnerabilidade, fruto do esforço e da dedicação de voluntários, doadores e colaboradores. “O agradecimento dessas pessoas nos faz pensar todos os dias na importância de uma simples marmita, uma garrafinha com água gelada e um docinho pra quem está esquecido nas ruas”, reflete Rose.
De segunda a sexta-feira, a Fundação Fé e Alegria atende em espaço cedido pela Arquidiocese de Porto Alegre, na Rua José Luiz Perez Garcia, no bairro Farrapos. O local recebe mais de cem crianças e adolescentes – registrados pelo Centro de Referência de Assistência Social de Porto Alegre –, que ganham três refeições diárias. Parte dos alimentos vem de doações da Prefeitura, mas nos últimos anos tornaram-se insuficientes. Hoje, a entidade também depende de outras parcerias para atender a todos.
São inúmeras as razões que levam alguém a viver nas ruas, mas nem só quem não tem um lar passa por situação de fome ou insegurança alimentar – quando uma pessoa não tem acesso pleno a alimentos. Por isso, a Franciele projetou uma escola alimentar em uma das cozinhas comunitárias criadas por ela e outros parceiros. Oficinas de massas, pães e bolos são oferecidas para ensinar um ofício a quem precisa. “A comida traz dignidade. Eu vi muita gente chorar ao receber uma refeição. Dá para imaginar isso?” completa.
Para saber mais e contribuir com as cozinhas solidárias, é só entrar no Instagram de cada iniciativa:
Créditos de imagem: Instagram_Cozinheiros do Bem