Programação queer por Viridiana

A artista apresenta locais da cidade que integram sua rede de afetos – e onde todes são bem-vindes


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Local

Guernica

Travessa dos Venezianos, 44 - Cidade Baixa
Porto Alegre

Local

Espaço Not Meat

Rua Vieira de Castro, 54 - Farroupilha
Porto Alegre

"Quando a gente não vê pessoas trans e LGBTQIA+, não é porque elas não querem estar lá, é porque elas não têm acesso, ou não se sentem bem-vindas.”

A musicista busca lugares seguros, onde possa exercer sua individualidade de maneira livre e, acima de tudo, tranquila

Última atualização em 25 de maio de 2023
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Vegano/Vegetariano
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Filha de uma carioca e um porto-alegrense, a musicista e produtora musical Viridiana se vê como uma eterna apaixonada por Porto Alegre – mesmo que tenha passado seus 24 anos ouvindo sua mãe dizer que preferia viver em outra cidade. “Quanto mais o tempo passa, mais me reapaixono”, confessa.

Nascida e criada na Zona Sul da capital gaúcha, nos bairros Assunção e Cavalhada, Viridiana passou uma temporada na Independência, hoje vive no Centro Histórico e se diz encantada por seu novo bairro.

Porto Alegre tem umas belezas meio escondidas. É muito fácil a gente usar um discurso de que é uma cidade pequena, provinciana, mas eu tenho me apegado muito às pessoas e aos lugares daqui", diz. Ela conta que circula muito pelo Centro e, eventualmente, se estica para os lados do Bom Fim, Rio Branco e Quarto Distrito, apesar de sentir saudade das ruas da Zona Sul. "Espero que nos próximos anos a gente tenha o mesmo crescimento da cena noturna que ocorreu no Quarto Distrito naquela região. Gosto de visitar esses lugares tentando encontrar uma melodia na minha cabeça”, torce.

Recém-moradora do Centro Histórico, a artista trans se encontra em um momento de desbravar seu novo bairro: “Tenho apreço muito grande pela Rua Fernando Machado, onde minha irmã morou por dois anos. Foi lá que eu comecei a frequentar mais a região. Andar por ali me transporta para outro lugar, outra Porto Alegre. Minha relação com onde vivo está melhor do que nunca, simplesmente pelo motivo de estar caminhando, conhecendo e vivendo coisas novas e encarando cada rua desconhecida como um possível novo amor dentro da cidade”.

A efervescência da música autoral em POA

Com 24 anos, Viridiana é um dos nomes de destaque na cena musical do Estado. Formada em Música Popular pela UFRGS, desenvolveu pesquisa sobre produção musical em home studio e as relações de música e gênero, pensando nos espaços ocupados por mulheres na produção musical e as questões do transfeminismo por meio de gênero, corpo e música.

Lançou seu primeiro projeto autoral em 2019, intitulado Androgênia, quando subiu ao palco do Agulha pela primeira vez. “É um dos lugares que fazem parte dessa minha potência em transformação e que volto até hoje, me apresento, vou assistir a outros artistas”. Em 2021, lançou Transfusão, seu primeiro álbum, projeto vencedor do Natural Musical 2020.

A performer também atua como produtora musical, assinando trabalhos de artistas como Nina Nicolaiewsky e Kaya Rodrigues, e em 2023 deve lançar seu segundo disco. 

A cantora e compositora acredita que a produção musical está em excelente fase, tanto por conta das composições e nomes ativos na cena quanto pelos locais que fomentam a música autoral por aqui. “Como musicista, acredito que a cidade esteja vivendo uma efervescência, em especial dos shows que retomam espaços públicos e a rua como lugar de encontro e de fazer cultura e fazer arte. Como artista, vejo a cidade como um ponto a ser explorado e cada vez mais curtir isso”, afirma.

Acolhida, segurança e afeto

Em sua curadoria sobre Porto Alegre, a musicista indica locais onde se sente em casa: “São lugares onde me sinto segura como pessoa trans, sem me preocupar com possíveis assédios, onde sei que surgirão encontros espontâneos que vão render muitas histórias e lembranças, onde eu encontro o afeto nos cantinhos. São lugares onde a vivência LGBTQIA+ é engrandecida, segura e gostosa”.

Para comer, seu restaurante preferido é o Espaço Not Meat, na Rua Vieira de Castro, no bairro Farroupilha, administrado por pessoas trans. “É um empreendimento muito importante para entendermos que pessoas trans podem ser donas de negócios e podem ter fruição no seu trabalho, nas suas criações”, conta. “Uma comida vegana muito gostosa é servida lá, e ainda dá para apreciar várias obras de artistas trans.” 

Uma calçada e uma travessa para ser livre

Já a Calçada Queer é uma feira que busca mobilizar pessoas trans e aliadas em um ambiente de trocas, destacando sua produções. “Esse evento acaba transformando os lugares, inclusive a primeira edição ocorreu no Not Meat. A feira reúne artistas, cozinheires, DJs, criando um espaço de protagonismo de quem geralmente é apagado. E normalmente quando a gente não vê pessoas trans e LGBTQIA+, não é porque elas não querem estar lá, é porque elas não têm acesso, ou não se sentem bem-vindas”, declara.

“E claro que não posso deixar de citar a Travessa dos Venezianos, como lugar, como conceito, como acontecimento, cheio de eventos, barzinhos, vida na rua, em apenas uma curta quadra de casinhas charmosas e coloridas, que parece levar a gente pra uma realidade paralela. Eu sinto muito carinho e respeito nesse lugar. São lugares seguros onde a gente pode exercer a nossa individualidade de maneira bonita, livre e, acima de tudo, tranquila”, explica Viridiana, destacando entre os estabelecimentos da Travessa a casa de shows Guernica: “Já toquei lá e foi lindo”.

Créditos de imagem - Destaque: Instagram_Viridiana | Retrato: Frances Rocha | Feed: Stella Michalski, Lau Baldo & Vitória Proença | Galeria: Stella Michalski