Brinde à diversidade por Vivi Ruskowski

Vivi Ruskowski é natural de Porto Alegre. Nasceu e passou a infância na Zona Norte da capital, mas sempre teve forte ligação com a área mais central, principalmente pelos amigos que lá viviam. Quando saiu da casa dos pais, não teve dúvidas ao optar pelo Centro Histórico para morar sozinha. "Já morei no Auxiliadora, Menino Deus, mas prefiro fincar meus pés nessa região. Conversa mais comigo e também com o meu negócio, que sempre quis abrir na Cidade Baixa por representatividade e acolhimento. Eu me sinto mais à vontade nesses bairros, porque respiram a diversidade em todos os níveis", diz. 

Quando Vivi se refere ao bairro como "diverso", não fala apenas das comunidades, especialmente a LGBTQIA+, mas da variedade de opções, com restaurantes de níveis mais altos e também botecos que servem as melhores a la minutas. "Aqui se encontra de tudo, desde a churrascaria e o saladão, até o italiano vegano. O bairro já tem seu cheiro e seu gosto", derrete-se.

Ela é sócia-proprietária e cofundadora do Butcher Pizza Bar, que fica na Cidade Baixa, e da hamburgueria Butcher Burguer, no bairro Petrópolis. Os dois fazem parte dessa diversidade gastronômica. 

Cervejas artesanais para adquirir experiências 

Característica da boemia porto-alegrense há alguns anos, a cerveja artesanal tem por aqui longeva tradição ligada aos alemães. Em 1890, existiam 12 cervejarias artesanais inauguradas por imigrantes em Porto Alegre. Hoje, a cidade é a segunda do Brasil com mais cervejarias: eram 43 estabelecimentos registrados até novembro de 2022. 

No entanto, Vivi foi até o outro lado do mundo para refinar o paladar. "Comecei tomando cerveja como todo mundo, com as cervejas mais comerciais, mas, quando morei na Austrália, tive um leque muito grande de novas tendências e estilos. A cerveja artesanal é uma potência naquele país, inclusive em termos de indústria. Tive mais contato até mesmo por experimentar e entender o que é a diferença de uma Pale pra uma Strong, e até de estilos mais fracos e fortes em termos de sabor e potência", explica. Assim, foi adquirindo um carinho e um hobby também por experimentar mais cervejas, aumentando seu conhecimento. 

Busca por representatividade originou negócio 

"Saí do armário há bastante tempo, em 2001, e isso foi me trazendo novos olhares, saindo muito da caixa e observando ao redor. Não me sentia muito representada naquela época, mas a crescente de empresas se posicionando, de uma cultura mais diversificada e da comunidade LBTQIA+ acabou por trazer novos locais que foram aumentado em potência", relembra.  

Depois de dois anos e meio morando na Austrália, Vivi quis abrir o próprio negócio com o objetivo de ser um local de segurança, abrangência e melhor posicionamento e representatividade para a comunidade LGBTQIA+. O Butcher Pizza Bar sempre trabalhou para ser um local agregador para toda a comunidade. "Nisso, sempre busquei também cervejarias que tivessem tendência agregadora, com diversidade tanto no catálogo de cerveja quanto na sua representatividade para a comunidade. Isso foi me abrindo portas para conhecer cervejarias que tinham a mesma ideologia que eu. As que mais frequento são as que têm mais diversidade e acolhem a comunidade a qual pertenço", conta. 

Bares que são também casa para a comunidade LGBTQIA+ 

O Ninkasi é um bar da Cidade Baixa que trabalha com a cervejaria Sapatista, elaborada e administrada por uma mulher homossexual, que traz a força de representatividade da comunidade. O calendário é bem completo e diversificado, de karaokê a bandas que apresentam uma atração nova por dia. "A cerveja que mais gosto é a Pantera Negra, uma Stout, bem forte, pra dias frios, mas nos dias de calor também vale porque o sabor é muito bom", avalia. "Gosto muito do karaokê. Sempre começa mais calmo e, quando vê, o pessoal tá bem solto e cantando junto no mesmo microfone. É uma noite para a galera se divertir e curtir muito à vontade o espaço", revela.  Ao lado do Ninkasi está o bar Fermentador, da cervejaria Zapata. É uma cervejaria rural, da cidade de Viamão, região metropolitana de POA. Tem uma pegada mais orgânica, de cuidado com as especiarias utilizadas para elaborar a cerveja. A cervejaria é premiada e conta com diferentes estilos. "A maioria das cervejas possui rótulo agregador e de diversidade: a Double Ipa, por exemplo, leva o nome de Zumbi, em homenagem a Zumbi dos Palmares. Eles agregam diversas comunidades, não somente a LGBTQIA+. É uma cervejaria que abraça muitas causas importantes", explica Vivi. A casa funciona no esquema "torneira, balcão e rua". O cardápio é vegano e vegetariano: o pastel de casca de banana desfiada, supercrocante, é um dos queridinhos da casa. 

O Povoada Gastrobar é um lugar novo. Também administrado por uma mulher lésbica, dá bastante atenção para a comunidade. Trabalha com a carta de cervejas mais enxuta, mas todas são de alta qualidade, da Pilsen à IPA. O bar fica na Cidade Baixa, ao lado do lado do Workroom, local com shows de drag queens. "Já fiz talks e palestras no Workroom. É um espaço para fala LGBTQIA+. O pessoal vai tomar cerveja enquanto assiste aos shows. O cardápio é bem variado e serve um brunch bem gostoso nos fins de semana", detalha Vivi.  Muitos bares estão se voltando para a região do Quarto Distrito, incluindo o Largo da Chosen. É uma cervejaria com pegada muito agregadora para a diversidade – não é um espaço limitado, mas é muito bem representado. "As cervejas são espetaculares, com pegada mais Ale, mais pro lado dos frutados, mas sempre trazendo uma novidade tanto no sabor quanto na coloração e densidade. Eles servem com torresmo delicioso, crocante e carnudo, bem boteco, com coxinha e outros petiscos. Amo ir pro happy hour e seguir na noite, porque geralmente tem alguma atração, seja DJ, roda de choro, seja samba", conclui.

Destaque: Instagram_Butcher Burguer | Retrato e feed: Arquivo Pessoal