Menu afetivo por Ângela Barcelos

A chef indica espaços que oferecem pratos que trazem boas memórias gustativas


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Wine Bar Armazém dos Importados

Avenida Coronel Lucas de Oliveira, 935 - Bela Vista
Porto Alegre

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Restaurante Quintanilha Porto Alegre

Rua 24 de Outubro, 171 - Moinhos de Vento
Porto Alegre

Local

O Galo Cinza

Rua Eudoro Berlink, 855 - Auxiliadora
Porto Alegre

“Todo mundo gostava dos meus bolos e doces, e eu descobri que cozinhar era o que me dava prazer. Acho que ali encontrei minha vocação.”

Além do curso de gastronomia, Ângela fez estágio com a banqueteira Neka Menna Barreto

Publicado em 17 de junho de 2023
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Ao preparar bolos e doces sob encomenda, na cozinha de casa, Ângela Barcelos, 48 anos, estava descobrindo uma vocação e uma identidade que sequer sabia que existiam. Inicialmente, a ideia era garantir uma renda extra nos primeiros anos da vida da pequena Isabela. O que aconteceu, na verdade, foi a descoberta de um novo caminho na vida da mãe que queria passar mais tempo com sua bebê e, para isso, abriu mão do trabalho como assistente administrativa em uma operadora de planos de saúde. 

Hoje, a chef Ângela está à frente da cozinha do restaurante O Galo Cinza, no bairro Auxiliadora, que serve um bufê aclamado pela qualidade da comida que oferece todos os dias no almoço. Enxuto e criativo, foi inaugurado há oito anos e vem, ao longo do tempo, assumindo uma posição em favor da comida saudável e da sustentabilidade. Ingredientes de qualidade superior e praticamente todos os legumes, verduras e ervas de origem orgânica são alguns dos diferenciais.

No preparo dos alimentos só entra azeite de oliva extravirgem e banha de porco, o que assegura que nenhuma gordura hidrogenada ou trans compõe as receitas. As panelas são de aço inox para evitar o contato dos alimentos com o alumínio, que é tóxico. Em dezembro de 2021, as placas solares passaram a gerar toda a energia consumida pelo negócio. Tudo isso tem a assinatura ou a participação ativa de Ângela que, ao lado do proprietário do local, está imprimindo a personalidade do restaurante. 

“Todo mundo gostava dos meus bolos e doces, e eu descobri que cozinhar era o que me dava prazer. Acho que ali encontrei minha vocação”, comenta, ao relembrar o começo da história. Em 2004, quando a pequena Isabela tinha quatro anos e já frequentava a escolinha, havia chegado a hora de voltar ao mercado de trabalho. As encomendas seguiam, mas a paixão pelas panelas ainda não era vista como futuro profissional – Ângela voltou a atuar como assistente administrativa, função que desempenhou por quase um ano. Até que um amigo, admirador dos seus quitutes, questionou por que, afinal, ela não fazia uma faculdade de gastronomia e se dedicava ao que realmente gostava. Em 2005 iniciou o curso na Unisinos. E a vida nunca mais foi a mesma. 

Ao longo dos estudos, Ângela trabalhou em restaurantes conceituados de Porto Alegre, como a cervejaria Dado Bier, e em variadas operações de buffet. As encomendas também seguiam, enquanto ela ia se descobrindo no curso e na prática da gastronomia. Em 2006, uma das inspirações da chef, a mãe, Dona Neli, morreu, deixando um vazio de presença e de referências. Um dos sonhos de mãe e filha – a formatura – se realizou somente depois de sua partida. 

O estágio obrigatório para a conclusão do curso foi com a banqueteira gaúcha radicada em São Paulo Neka Menna Barreto. Uma transformação e uma grande inspiração, segundo Ângela. Depois da formatura, vieram trabalhos em outros restaurantes em áreas de gestão, além da cozinha, e de consultoria. Em 2015, empreendendo em casa e com pouca capacidade de investimento para expandir o negócio, a chef voltou a buscar uma colocação no mercado. Foi quando encontrou bufê O Galo Cinza, cujo projeto estava se estruturando.

Verdade e paixão no prato

Ao longo dos anos, Ângela Barcelos vem sedimentando um estilo que mistura simplicidade e apuro ao cardápio do buffet. Os pratos de que todo mundo gosta são mantidos e algumas ousadias permitidas, de acordo com a intuição da chef. “Foi assim com a anchova. Sei que é um peixe que nem todo mundo aprecia, por ter sabor mais acentuado. Mas eu fui preparando e as pessoas foram provando. Hoje é um sucesso”, destaca. A motivação para tudo, segundo ela, é a verdade que somente uma comida bem feita entrega. Tudo isso com simplicidade – a qualidade não está em fazer alta gastronomia, mas em preparar as receitas com apuro e ingredientes de qualidade superior.

Alguns dos comentários mais frequentes nas avaliações e redes sociais do bufê O Galo Cinza apontam as sobremesas, sempre perfeitas. Não são os doces, no entanto, que Ângela destaca como o seu xodó. “Quando convido amigos para o restaurante, sempre os chamo no sábado, que é o dia da nossa feijoada. Acho que é uma das melhores preparações que servimos aqui”.

Em Porto Alegre, a chef natural de Cachoeira do Sul encontra algumas fontes de inspiração e troca de sabores e experiências. Uma delas é o restaurante Quintanilha, do amigo Edvaldo Nunes, um bufê que, como O Galo Cinza, se dedica a oferecer pratos feitos com apuro e ingredientes de qualidade superior. “A comida dele me traz memórias afetivas, é muito bom”. Sempre que pode também frequenta o Wine Bar Armazém dos Importados, comandado pelo chef Vinícius Cézar, seu amigo. “Ele é um dos melhores profissionais que conheço, sempre saio de lá emocionada”, assinala.

Quando não está gerindo a equipe e comandando a cozinha do Galo Cinza, Ângela curte a vida ao ar livre, onde cumpre sua rotina de treinos físicos. Um dos espaços que frequenta é a área verde do condomínio onde mora, na Avenida Bento Gonçalves. Outro é a Orla do Guaíba, especialmente na altura do Gasômetro, onde ela se exercita, relaxa e recarrega as energias.

Herança garantida

Hoje, a bebê que motivou as mudanças na vida da mãe é estudante de Direito e se prepara para atuar na área. A cumplicidade entre as duas, porém, segue instigando Ângela a buscar sempre novos sabores e técnicas. “Ela tem paladar exigente e gosta sempre de comida da hora, novinha, bem temperada”, revela. As duas cozinham juntas com frequência e, segundo a chef, a futura bacharel não se intimida pela habilidade da mãe. “Nossa história está muito ligada à comida. Ela gosta de cozinhar e de comer, o que nos une ainda mais. Ela sempre me pede um livro para registrar as receitas favoritas. Um dia ainda vou fazer”, completa.

Créditos de imagem - Destaque: Instagram_Galo Cinza | Retrato e feed: Arquivo Pessoal